O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), iniciou uma cruzada para expulsar da cidade a empresa Águas de Manaus. Oficialmente, o motivo é a má prestação de serviços, o que é corroborado por boa parte da população. Mas existe um outro motivo oculto: o político tem em mãos uma proposta, que lhe foi encaminhada por liderança nacional de seu partido, de outra companhia interessada em assumir o serviço.
O abastecimento de água e a instalação de esgoto em Manaus é privado desde 2000, quando o então governador Amazonino Mendes vendeu a parte da Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama) que servia a capital. O negócio foi muito contestado na época por causa do valor e das metas estabelecidas, que eram muito amplas e pouco objetivas. Assumiu o abastecimento a Manaus Ambiental, vinculada ao grupo Águas do Brasil.
Em 2019 o então prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) comandou o processo que transferiu o controle do serviço para o grupo Aegea, o maior do Brasil no setor, que mudou o nome da concessionária para Águas de Manaus.
A privatização em Manaus nunca foi bem sucedida. O serviço melhorou quando o Governo do Estado construiu e entregou o Proama, novo sistema de abastecimento instalado na zona Leste da cidade. Somada à captação da Ponta do Ismael, na Compensa, zona Oeste, a nova estação aliviou boa parte da população, mas ainda assim a capital amazonense é a quinta pior do país no quesito água e esgoto, segundo o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento Básico.
Sabedor da deficiência, David Almeida quer aproveitar a ocasião e emplacar no setor uma “empresa amiga”, que dificilmente resolverá os problemas se não houver um contrato com metas bem amarradas. Para os objetivos políticos do prefeito, entretanto, contar com uma gigante no setor de abastecimento de água que ele possa controlar de perto é um grande trunfo, tanto financeiro quanto administrativo.