Dados sobre devastação de mais de 13 mil km² no bioma, a maior em 15 anos, estavam disponíveis para consulta quatro dias antes da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas
O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) concluiu os dados de desmatamento da Amazônia em 27 de outubro e inseriu o relatório no sistema eletrônico de informações do Governo Federal no mesmo dia, segundo fontes do instituto ouvidas pelo jornal Folha de S.Paulo.
O documento só foi divulgado nesta quinta-feira (18). O relatório com os dados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) mostra uma devastação de 13.235 km² entre agosto de 2020 e julho de 2021, índice mais elevado desde 2006. O número representa um aumento de 22% em relação ao período anterior.
O Inpe deixou registrado no arquivo em PDF a data da conclusão do relatório: 27 de outubro de 2021. No mesmo dia, o documento foi inserido no sistema eletrônico, o que permitiria consulta aos dados consolidados.
Quatro dias depois, teve início a COP26, em Glasgow, no Reino Unido. Na Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, o governo Jair Bolsonaro escondeu o recorde de desmatamento da Amazônia em 15 anos.
Durante a COP26, a delegação brasileira foi criticada por ativistas climáticos por não divulgar o Prodes, considerado mais preciso que outro sistema do Inpe, o Deter. Com base em números de agosto de um ano a julho do ano seguinte, o Prodes costuma estar disponível no começo de novembro.
Na COP26, o Brasil assinou a Declaração de Florestas, ao lado de outros 123 países, em que há o compromisso de redução de desmatamento. O país se comprometeu a zerar e reverter perda de florestas até 2030. E também com o corte de 30% de emissões globais de metano até 2030, em comparação com 2020.
Além disso, o Brasil anunciou um ajuste na promessa de corte de gases de efeito estufa até 2030: 50% em relação a níveis de 2005, ante 43% anteriormente previsto.
Nesta quinta-feira, os atuais dados do Prodes foram disponibilizados no site do Inpe sem qualquer ação de divulgação. À noite, os ministros Joaquim Álvaro Pereira Leite (Meio Ambiente) e Anderson Torres (Justiça) participaram de uma coletiva de imprensa para comentar os dados.
Leite afirmou que os números são inaceitáveis e prometeu uma atuação “contundente” no combate a crimes ambientais. Ele foi questionado em duas ocasiões sobre a data da elaboração dos dados pelo Inpe —27 de outubro—, mas alegou só ter tido acesso à informação nesta quinta.
“Talvez tenha sido por cautela que o Inpe tenha atrasado a divulgação desses dados, para alguma revisão, mas eu não tenho essa informação do Inpe. O que eu tenho informação é que foi divulgado hoje e nós estamos aqui deixando claro que esse número é inaceitável e nós vamos combater contundentemente o crime ambiental na Amazonia”, disse.
“Eu tive contato com o dado hoje, exatamente como vocês devem ter tido acesso.”
A explosão do desmatamento da Amazônia medida pelo Prodes contradiz afirmação feita pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Na última reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal, em 24 de agosto, Mourão chegou a antecipar o que seria a evolução do dado consolidado do Prodes: uma queda de 5% do desmatamento em comparação ao ciclo anterior.
Esta não é a primeira vez que Mourão falseia a realidade em relação à atuação do governo na Amazônia.
Com informações do jornal Folha de S.Paulo