Uma camisa da seleção brasileira, usada na Copa do Mundo de 1998, gerou repercussão nas redes sociais pouco antes da estreia do Brasil na Copa América, na semana passada.
A aguardada edição histórica da Nike não foi o centro das atenções devido ao seu alto preço: R$ 899 é o valor salgado dessa peça. No entanto, é possível parcelar em até oito vezes, conforme divulgado no site da marca. Se pagar com PIX, há um desconto, saindo por R$ 854,99.
“Isso foi uma das maiores sacanagens que eu já vi”, escreveu um torcedor na rede social X. “900 reais numa camisa da seleção em um país onde a maioria que acompanha o futebol mal recebe 1.400 por mês”, comparou outra internauta.
Comparado aos modelos atuais das camisas da seleção, a diferença é clara: cerca de R$ 350 para a versão de torcedor e mais de R$ 600 para a versão “jogador”. Será que torcer pela seleção está se tornando um luxo?
Uma análise do professor Marcos Milan, da FIA Business School, revela um aumento de dois dígitos em diversos itens consumidos durante os jogos da seleção desde 2021, o ano da última Copa América.
O álbum de figurinhas subiu 25%, enquanto a camisa canarinho subiu 16% em suas versões tradicionais durante esse período.
Por outro lado, os preços de dois produtos importantes para os brasileiros diminuíram de lá para cá: carne de churrasco tradicional (-1,51%) e TV (-2,17%).
Para comparação, a inflação oficial do país, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 24,57% nos últimos três anos. Isso indica que uma grande quantidade de produtos caiu abaixo da inflação oficial acumulada desde a última Copa América.
Desde 2021, as bebidas que os brasileiros costumam beber no churrasco têm aumentado acima da inflação, apesar da queda nos preços da carne. Como exemplo, o preço da cerveja no domicílio aumentou 26%, enquanto o refrigerante aumentou 29,54%.
A inflação acumulada no período foi causada por dois fatores bastante específicos, de acordo com o professor Marcos Milan da FIA: os efeitos da pandemia de COVID-19 e as eleições presidenciais de 2022.
“A pandemia causou um aumento bastante expressivo no consumo de itens em casa, impactando diretamente o consumo de cerveja, água e refrigerante em domicílio”, explica. “Em anos eleitorais, a inflação também tende a ser mais elevada.”
Além disso, Milan observa que, a partir de 2023, a variação de preços dos produtos examinados começou a diminuir. De janeiro de 2023 a maio de 2024, a carne, o principal item de churrasco, caiu 11,8%.
“Enquanto isso, a aquisição de novos aparelhos de televisão tem acumulado queda desde 2022. Para o período de janeiro de 2023 a maio de 2024, a queda é de 12,75%”, pontua.
Além disso, o professor enfatiza a expansão do modelo tradicional da camisa da seleção brasileira, com exceção da edição da Copa de 1998 que foi relançada.
“O novo modelo lançado pela Nike custa R$ 349,90, uma alta de mais de 16% em relação aos R$ 299,90 do modelo anterior”, conclui.