Pelo menos 47 pessoas ficaram feridas nesta terça-feira (27/5) durante a distribuição de ajuda humanitária na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. A ação, marcada por tumulto e desorganização, terminou com disparos feitos por tropas israelenses, que tentavam conter a multidão desesperada por alimentos.
O episódio ocorreu após meses de bloqueio imposto por Israel, que tem dificultado severamente o acesso da população de Gaza a itens básicos, como comida e medicamentos. Com a chegada de um carregamento da Gaza Humanitarian Foundation (GHF), milhares de pessoas se aglomeraram em busca de suprimentos, gerando uma situação caótica.
“Estávamos em fila, mas as pessoas começaram a empurrar e invadir o local, desesperadas”, relatou Ayman Abu Zaid, presente no centro de distribuição. Segundo ele, a confusão foi agravada pela demora na entrega dos alimentos.
Testemunhas relataram que soldados israelenses atiraram para o alto e em direção à multidão para dispersar a aglomeração. Algumas das pessoas atingidas teriam sido baleadas. “Cerca de 47 civis ficaram feridos”, confirmou Ajith Sunghay, chefe do escritório da ONU para Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reconheceu o descontrole momentâneo e disse que a situação foi restabelecida. O Exército israelense afirmou que os disparos foram “tiros de advertência” e que as operações devem prosseguir conforme o planejado.
A distribuição estava sob responsabilidade da GHF, fundação humanitária norte-americana que atua em parceria com Israel. A organização informou que a multidão forçou a retirada de sua equipe, mas permitiu que parte da população recebesse os alimentos com segurança antes de dispersar. A fundação também responsabilizou o Hamas por atrasos no processo.
Imagens da TV Al Jazeera mostraram civis deixando o local com caixas de ajuda com o selo da GHF. Apesar disso, a atuação da fundação é contestada por entidades internacionais. A ONU, por exemplo, se recusa a cooperar com a organização, acusando-a de desrespeitar os princípios humanitários e servir a objetivos militares israelenses.
“O que vimos em Rafah é alarmante. A ONU e seus parceiros têm planos sólidos para levar ajuda de forma segura e neutra”, afirmou o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric.
A GHF foi registrada em Genebra apenas em fevereiro e não possui presença conhecida na cidade. No último domingo (25/5), seu diretor-executivo Jake Wood renunciou, alegando que não era possível manter a neutralidade exigida em ações humanitárias diante das atuais condições.
Enquanto isso, a população da Faixa de Gaza enfrenta níveis críticos de desnutrição. “O que vivemos aqui não é vida. Minha filha não resistiu à fome nem ao frio”, desabafou uma mãe palestina à RFI, por telefone. A entrada de jornalistas na região permanece restrita por Israel.