Derrota da oposição já era prevista por especialistas e mostra um indicativo preocupante para as eleições presidenciais no país sul-americano em 2024
A fragmentada oposição venezuelana sofreu um revés nesta segunda-feira (22), quando os números oficiais das eleições regionais de domingo (21) mostram que o chavismo conquistou 20 dos 23 governos do país, bem como a prefeitura da capital Caracas.
O pleito, que foi o primeiro com a participação de observadores internacionais em 15 anos e também marcou o retorno da oposição, ausente desde 2018, teve participação de somente 41,8% dos eleitores.
Nas últimas regionais, em outubro de 2017, a participação foi de 61%, segundo os dados oficiais. Já nas eleições parlamentares do último ano, o comparecimento foi de 31%. Em 2015, no último pleito considerado livre, 74% dos eleitores participaram.
Entre os estados que agora serão controlados pelo PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), do ditador Nicolás Maduro, está Táchira, na fronteira com a Colômbia, região sensível entre os dois países e tradicionalmente opositora. Já uma das três regiões conquistadas pela oposição é Zulia, estado mais populoso do país.
A derrota da oposição já era prevista por especialistas, mas o mau desempenho foi visto como indicativo preocupante para as eleições presidenciais de 2024. Luis Vicente León, economista e presidente do Instituto Datanálisis, principal e mais respeitada empresa de pesquisas da Venezuela, afirmou que a alta abstenção (52,8%) e a fragmentação foram os fatores definitivos para os resultados.
“O objetivo buscado pela oposição moderada ao promover a participação nas eleições regionais era validar partidos e líderes e organizar mudanças na própria oposição”, escreveu León em uma rede social. “Fica evidente que esse resultado, muito negativo, não alcança esse objetivo.”
A oposição ao regime de Maduro está dividida, principalmente, entre as coalizões antichavistas MUD (Mesa de Unidade Democrática) e Aliança Democrática. O presidente do Datanálisis classifica a divisão como um erro lamentável, em especial porque a soma dos votos das duas alianças em todo o país, afirma, mostra que há uma força significativa contra o regime de Maduro.
Diversos opositores, um deles o ex-candidato a presidente Henrique Capriles, afirmaram nesta segunda que, caso unida, a oposição teria votos suficientes para ganhar 10 governos, mais que o triplo do que foi conquistado de forma fragmentada.
Tomas Guanipa, candidato da oposição à prefeitura de Caracas, disse que os resultados mostram que é urgente repensar a estratégia adotada até aqui. “O que é inegável é que a grande maioria deste país quer mudanças e é por isso que vamos lutar.”
O líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por dezenas de países, não votou e permaneceu em silêncio. Nesta semana, Guaidó defendeu “unificar a luta” contra Maduro depois das eleições e insistiu em buscar um acordo nas negociações empreendidas pelo regime e a oposição no México, paralisadas desde a extradição aos EUA do empresário colombiano Alex Saab, ligado ao ditador chavista.
Com informações do jornal Folha de S.Paulo