O Carnaval é uma época de celebração, música e diversão, mas também pode ser um período de excessos, principalmente no consumo de bebidas alcoólicas. Para evitar que a festa termine em mal-estar ou problemas de saúde, é importante entender os efeitos do álcool no organismo e adotar escolhas mais conscientes durante a folia.
Embora muitos acreditem que misturar diferentes tipos de bebidas amplifica o impacto do álcool no corpo, especialistas afirmam que não há respaldo científico para essa teoria. A gastroenterologista Débora Poli, do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), de São Paulo, explica que o verdadeiro problema não está na mistura, mas na quantidade total de álcool consumido. “O risco de misturar bebidas é perder a noção de quanto se ingeriu, o que pode levar a um consumo maior do que o planejado”, esclarece.
Bebidas fermentadas, como cerveja e vinho, possuem teor alcoólico menor (entre 3% e 12%), enquanto os destilados, como vodca e cachaça, podem chegar a 50%. Essa diferença facilita a perda de controle sobre a quantidade de álcool consumido, especialmente quando se alternam entre drinques e cervejas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que não existe nenhum nível seguro de consumo de álcool para a saúde. Desde 2023, a entidade reforça que até mesmo doses moderadas podem trazer riscos ao coração, fígado e cérebro. O consumo é considerado excessivo quando uma pessoa ingere seis ou mais doses em uma única ocasião. Cada dose corresponde a cerca de 350 ml de cerveja ou 150 ml de vinho.
Em vez de focar no tipo de bebida, o ideal é consumir a menor quantidade de álcool possível. Embora alguns estudos apontem benefícios sutis do consumo moderado de vinho ou cerveja, essas conclusões são amplamente questionadas pela comunidade científica.
O álcool afeta diretamente o trato digestivo, podendo causar dores de estômago, azia, queimação e até diarreia. Além disso, impacta órgãos como fígado, rins e cérebro, e é considerado um agente cancerígeno. No fígado, o consumo excessivo pode resultar em hepatite alcoólica e, a longo prazo, levar à cirrose, uma condição potencialmente fatal. No sistema nervoso central, os efeitos do álcool podem incluir ressaca, com sintomas como dor de cabeça e tontura, e, ao longo do tempo, agravar transtornos psiquiátricos.
A nutricionista Maria Fernanda Castioni, professora da Universidade Católica de Brasília, explica que o álcool gera uma sensação de saciedade, o que pode levar a uma alimentação inadequada e deficiências nutricionais. O álcool também interfere na absorção e no metabolismo de vitaminas essenciais, como a tiamina (vitamina B1), fundamental para o metabolismo energético. Além disso, pode agravar condições como gastrite e refluxo.
Outro ponto importante é que as bebidas alcoólicas são calóricas e não oferecem valor nutricional. Em média, o álcool contém sete calorias por grama. Bebidas destiladas, como gin e vodca, tendem a ser menos calóricas (cerca de 100 calorias por dose de 50 ml). Contudo, se o objetivo for não ganhar peso, é preciso ter moderação, já que duas doses dessas bebidas podem ser mais calóricas do que uma lata de cerveja, além de frequentemente serem acompanhadas de ingredientes adicionais, como refrigerantes e energéticos, que aumentam a carga calórica.
Dicas para um Consumo Consciente
Para minimizar os efeitos negativos do álcool durante o Carnaval, especialistas recomendam hidratação constante, alternando o consumo de bebidas alcoólicas com água, água de coco ou sucos. Alimentar-se bem antes e durante a festa também é essencial, pois a comida ajuda a retardar a absorção do álcool e mantém o corpo bem nutrido.
A nutricionista Maria Fernanda Castioni sugere uma alternativa mais saudável: “Se eu tivesse que dar uma sugestão de bom consumo, aconselharia a sangria espanhola, em que o vinho é diluído em uma mistura de frutas e especiarias. Além de ser benéfica para a saúde, essa combinação promove maior hidratação e pode ajudar a reduzir os danos do álcool”.
Com moderação e escolhas conscientes, é possível aproveitar a festa de forma segura e saudável, sem comprometer o bem-estar.