Nesta quarta-feira (5), completam dois anos dos assassinatos no Vale do Javari, na Amazônia, do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Em Brasília, o Ministério dos Povos Indígenas promoverá três atos públicos em homenagem às vítimas.
O evento inicial, que terá início às 14 horas no Cine Brasília, localizado no bairro Asa Sul (SHCS EQS 106/107, s/no), deve reunir as viúvas de Bruno e Dom, Beatriz Matos e Alessandra Sampaio, respectivamente, bem como autoridades federais, representantes de ONGs e indigenistas.
Haverá um debate sobre as lutas no Vale do Javari dos defensores de direitos humanos, comunicadores e ambientalistas, além da exibição gratuita do documentário Vale dos Isolados: o assassinato de Bruno e Dom.
O filme, dirigido pela repórter Sônia Bridi, ganhou o Vladimir Herzog, um dos principais e tradicionais prêmios de jornalismo de direitos humanos do Brasil, em outubro de 2023, por “revelar como a negligência do Estado fez ressurgir um ciclo histórico de violência na região com o maior número de indígenas isolados do mundo”.
O segundo evento está programado para começar na Esplanada dos Ministérios às 18 horas. No bloco A dos edifícios ministeriais, onde funciona uma parte da estrutura do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, imagens de Bruno e Dom serão projetadas. Os participantes da iniciativa incluem Sonia Guajajara, ministro dos Povos Indígenas, e Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e Cidadania.
O Memorial dos Povos Indígenas, localizado no Eixo Monumental Oeste (Zona Cívico-Administrativa, Praça do Buriti, em frente ao Memorial JK), terá o terceiro e último evento oficial em memória de Bruno e Dom às 19h30. Um resumo das ações que o governo federal fez na região será apresentado nele. O balanço inclui ações que integram o Plano de Proteção da Terra Indígena (TI) do Vale do Javari para proteger a terra e garantir os direitos sociais dos residentes da região.
O Ministério dos Povos Indígenas informou que a cerimônia será transmitida nas redes sociais e o link será divulgado nos perfis da pasta no Instagram ao longo do dia.
O Ministério dos Direitos dos Povos Indígenas declarou que o duplo homicídio “revelou a jornada de dois profissionais que se converteu em um marco da luta pelos direitos dos povos indígenas e da preservação do meio ambiente”.
Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos a tiros em 5 de junho de 2022. A dupla tinha se reunido em Atalaia do Norte (AM) no início de junho. Dom planejava entrevistar lideranças indígenas e ribeirinhos para escrever um livro-reportagem que pretendia intitular de Como Salvar a Amazônia.
Indigenista experiente, Bruno havia se licenciado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em fevereiro de 2020, por discordar das novas orientações quanto à execução da política nacional indigenista. Desde então, atuava como consultor técnico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Além de guiar Dom, Bruno viajaria para se reunir com lideranças de comunidades do entorno da Terra Indígena Vale do Javari – segunda maior área do país destinada ao usufruto exclusivo indígena e a que abriga a maior concentração de povos isolados em todo o mundo.
A dupla foi vista pela última vez na manhã do dia 5. Seus corpos só foram localizados em 15 de junho, quando policiais já tinham detido ao menos cinco suspeitos de participar do crime.
Em julho de 2022, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou Amarildo da Costa Oliveira (conhecido pelo “Pelado”), Oseney da Costa de Oliveira (“Dos Santos”) e Jefferson da Silva Lima (“Pelado da Dinha”) por duplo homicídio qualificado e ocultação dos corpos de Bruno e Dom. Também foram detidos e indiciados pela Polícia Federal (PF) Ruben Dário da Silva Villar (o Colômbia, e Jânio Freitas de Souza. O processo está em andamento, mas a subseção Judiciária Federal de Tabatinga (AM) ainda não marcou a data do julgamento dos três principais acusados.