As ofensivas militares de Israel sobre a Faixa de Gaza deixaram ao menos 103 mortos apenas na última quinta-feira (15), segundo equipes de resgate palestinas. A região vive um agravamento da crise humanitária com escassez severa de alimentos, água potável, combustível e medicamentos. A ONU alerta para o risco iminente de colapso total do sistema de assistência à população civil.
O envio de ajuda humanitária está suspenso desde 2 de março, como parte da estratégia israelense para pressionar o Hamas a libertar reféns capturados nos ataques de 7 de outubro de 2023. O grupo islamista, no entanto, reafirmou que a retomada do fornecimento de suprimentos essenciais é uma condição mínima para o avanço das negociações.
“A privação de ajuda se transformou em uma ferramenta de extermínio”, afirmou Federico Borello, diretor interino da Human Rights Watch, ao denunciar o bloqueio imposto por Israel. A Faixa de Gaza está com 70% de seu território sob ordens de evacuação ou declarado como zona militar proibida.
Com a retomada dos ataques em 18 de março, o governo israelense encerrou um cessar-fogo que estava em vigor desde janeiro. Desde então, mais de 2.800 pessoas foram mortas, elevando o total de vítimas da guerra para 53.010, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
Hamas pressiona por ajuda e negocia com EUA
Basem Naim, alto funcionário do Hamas, declarou que o grupo mantém diálogo direto com interlocutores ligados ao governo dos Estados Unidos. Ele disse que o Hamas está disposto a aceitar a retirada das forças israelenses, a entrada total de ajuda humanitária e a reconstrução de Gaza como pré-requisitos para encerrar a guerra.
Naim também afirmou que o Hamas está aberto a deixar o poder, que exerce em Gaza desde 2006, como parte de um possível acordo. “Estamos prontos para entregar o governo imediatamente se a guerra terminar”, disse. A libertação recente do refém americano-israelense Edan Alexander teria sido um gesto de aproximação com Washington.
Apesar da classificação do Hamas como organização terrorista pelos EUA, há relatos de que emissários do governo de Donald Trump, como Adam Boehler, teriam autorização para negociar diretamente com o grupo.
ONU se afasta de iniciativa humanitária dos EUA
A ONU rechaçou uma operação de ajuda humanitária proposta pela Fundação Humanitária de Gaza, apoiada pelos Estados Unidos. A entidade planeja iniciar a distribuição de suprimentos ainda neste mês, mas a organização internacional declarou que a proposta “não atende aos princípios de imparcialidade, neutralidade e independência”.
Enquanto isso, o presidente Donald Trump, em visita ao Oriente Médio, voltou a defender que os EUA tomem o controle do território palestino. Em discurso no Catar, ele sugeriu transformar Gaza em uma “zona de liberdade”, retomando declarações anteriores em que propunha fazer da região a “Riviera do Oriente Médio”.
A resposta veio de Basem Naim: “Gaza é parte integrante da Palestina, não está à venda”.
A guerra entre Israel e o Hamas, deflagrada após os atentados de 7 de outubro de 2023, que deixaram cerca de 1.200 mortos, continua sem previsão de cessar, com 57 reféns ainda em poder do grupo, segundo as Forças de Defesa de Israel. Desses, ao menos 34 estariam mortos.