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Lobão: Há 20 anos vivendo na decadência

Por Filipe Vasconcelos – Lobão, um artista completa, que prefere se jogar na mediocridade do seu próprio ego.

Não dá pra negar que o Lobão é sim um artista muito competente e dono de canções incríveis, como “Me Chama”, “Vida Louca Vida”, “Corações Psicodélicos”, “Rádio Blá”, e outras que, mesmo não enveredando no caminho radiofônico popular, também são incríveis, como “A Vida é Doce”, “A Queda”, “Síndrome do Brega” e “Por Tudo Que For”, apenas citando alguns exemplos. Porém, amigo leitor, esse texto não é pra passar pano pro oitentista, afinal, independente de sua obra digna, a capacidade de falar besteira e causar confusão em troca de qualquer mínima atenção é maior que a arte do Lobão.

A nova polêmica envolvendo o roqueiro dos anos 80 surgiu através da edição de quinta-feira (27) do programa Balanço Geral, da TV Record. Atração divulgou áudios vazados onde Lobão xinga de lixo colegas de sua geração; como os Titãs, que são desafetos mútuos e declarados há um bom tempo, Lulu Santos, Paulo Ricardo, Capital Inicial. Até a safra mais “recente” foi alvo do veneno do cantor, como o Cpm 22. Sobrou também para alguns apresentadores, como Serginho Groinsman e Danilo Gentili.

Os conteúdos dos áudios não são exatamente importantes para a minha crítica, embora eu creia que vale a pena citar. O contexto das conversas vazadas, embora não seja claro, parece ser um tipo de reunião de pauta onde Lobão disserta sobre possíveis convidados para entrevistas, não fica claro se seria algum programa de TV ou até mesmo um possível podcast, todo mundo agora acha que tem condições de apresentar um podcast na internet, não é mesmo?

Divulgação/Instagram

As mensagens vazadas em si são apenas mais uma linha que costura o contexto geral do que o Lobão se tornou nos últimos 20 anos; um artista talentoso, mas amargurado pelas decisões tomadas por ele que o levaram ao rumo decadente em que se encontra hoje. E caso você não saiba, o Lobão surgiu na mesma safra que as grandes bandas de rock dos anos 80, mas sempre foi essa figura contundente, tanto que sua primeira grande banda foi a Blitz, que fundou junto com Evandro Mesquita, onde foi baterista e foi expulso por desentendimentos internos.

Dai começa a sua irregular carreira solo, que teve o primeiro ápice no segundo álbum, onde se juntou com a banda Os Ronaldos, lançando o disco intitulado “Ronaldo foi pra Guerra”, em 1984, onde gravou seu maior sucesso radiofônico, “Me Chama”. Em 1987 veio “Vida Bandida”, seu último grande disco.

Embora o disco tenha sido um sucesso, o período de “Vida Bandida” em si também marcou pra sempre a carreira do Lobão, de forma negativa. Nessa época ele foi preso por posse de drogas e chegou a pedir liberação da justiça pra terminar as gravações do LP. E isso de certa forma ajuda a explicar o comportamento midiático do cantor. Sua prisão foi tão noticiada quanto seu novo disco, o que prejudicou a imagem dele, fazendo-o se distanciar da grande mídia nos anos seguintes.

O egocentrismo do Lobão sempre foi maior que a sua obra. Tanto que, nos anos 90, sua fama de falastrão já era muito forte. Com freqüência ele gostava de falar o quanto era talentoso ao ponto de ser, por exemplo, plagiado pelos Paralamas do Sucesso. Em outras entrevistas, chamava os cantores da MPB de “máfia”, falando que um artista deveria beijar a mão de Caetano Veloso para ser “aceito” pelo grupo, coisa que ele conta até hoje nos podcasts que participa.

Claro, eu imagino que toda essa raiva embutida nas entrevistas do Lobão existe pra disfarçar o fato de que sua obra, assim como aconteceu com vários companheiros dos anos 80, perdeu força na década de 90. Mas ao contrário dos Paralamas, Barão ou Titãs, que apenas perderam popularidade, Lobão virou o garoto das páginas policiais, que noticiavam até sua amizade com bicheiros e líderes de facções criminosas no período em que foi preso. Após isso, ele foi obrigado a ver essa mesma turma voltar aos holofotes graças a Mtv Brasil, enquanto ele seguia taxado de irrelevante, mesmo lançado discos interessantes como “O Inferno é Fogo” e “Nostalgia da Modernidade”.

Falando em Mtv, também comprou briga a emissora, que ajudou a reviver vários artistas oitentistas através de seu projeto “Acústico Mtv”. Enquanto Capital Inicial, Titãs, Paralamas e Lulu Santos viviam novos auges graças ao programa, Lobão chamou a todos de vendidos e recusou por anos os convites da emissora de fazer o programa. Chega a ser irônico o fato de que, depois que Lobão finalmente gravou o seu acústico, em 2007, ele assinou um contrato com a Mtv onde ficou mais de cinco anos apresentando programas no canal. Quem foi o maior vendido, no final das contas?

E por fim, e não menos importante, ele ainda tomou partido nesse cenário polarizado da política brasileira, onde qualquer artista que se preze, não se envolve. Só que o cara conseguiu a façanha de ser execrado pelos dois lados, uma vez que, no passado, fez campanha em prol do Lula, para anos depois, fazer campanha para Jair Bolsonaro, e no final falar mal dele também. É discurso muito raso e sem credibilidade, muito baseado em “vou pra onde a onda me levar” para em seguida, ficar contra a onda e sempre assumir essa postura de contestador inteligente, que engana apenas a sua base fãs pseudo-intelectual.

Divulgação/Instagram

Olhando todo esse histórico em volta da figura um tanto curiosa que Lobão é, fica claro que ele se encontra em um fim de carreira lastimável, que dura há 20 anos, diga-se de passagem. Cheio de ideologias que não pagam contas e decidido a brigar com tudo e todos em busca de uma migalhinha de atenção, se de fato o artista planeja começar um programa de entrevistas ou um podcast, os áudios vazados já são uma previsão do fracasso. Conforme ele mesmo diz nos áudios, quem vai querer se associar com uma figura queima filme?

E eu acho uma pena ver a imagem do Lobão no lixo, pois eu escuto seus discos, inclusive os atuais, e acho seu trabalho incrível. Infelizmente, sua carreira seguiu o caminho que ele próprio escolheu. Um grande cantor e compositor, que infelizmente, é mais conhecido por ser um reclamão cheio de recalques, que não consegue lidar com as escolhas que ele mesmo fez. A carreira do Lobão merecia um fim mais digno.

*O autor é estudante de jornalismo e músico

Os artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitida sua reprodução, total ou parcial desde que seja citada a fonte.

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