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Resenha: “Olho Furta-Cor” é o pior disco da história do Titãs

Por Filipe Vasconcelos: “Arranjos bonitos são utilizadas em um repertório irregular e chato nesse novo trabalho”

Uma coisa que sempre me encantou na discografia do Titãs é a sua versatilidade musical. Ao longo de 40 anos de carreira, a banda fez de tudo, desde as músicas de auditório, presente no álbum de estréia de 1984, até as canções mais pesadas e podreiras que um grupo de rock oitentista pensou em fazer, como podemos conferir nos discos Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (1991) e Titanomaquia (1993).

Embora tenha se mantido lançando discos interessantes, a impressão que fica é que depois de uma fase ignorados pelas rádios e grande mídia, com os já citados álbuns acima, o Titãs entrou numa busca constante de se manter na mainstream, e isso de certa forma aconteceu, dado o sucesso de discos como Acústico Mtv (1997), A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (2001) e Como Estão Vocês (2003). O preço pago por isso foi uma visível queda de criatividade nas músicas e o comodismo com mercado fonográfico até os dias atuais. Ainda sim, mesmo em discos mais “pop” como no polêmico “Sacos Plásticos” (2009), ainda se via uma faísca de criatividade. Infelizmente, essa fagulha se apaga por completo em Olho Furtar-Cor, lançado em 2022.

Encarte/Divulgação: Branco Mello, Sérgio Britto, Tony Belloto

Eu precisei escutar mais de uma vez esse disco pra me convencer que, de fato, eu estava diante do pior trabalho da banda (excluo aqui o também odiado As Dez Mais, pelo fato de que não traz nenhuma canção autoral do grupo). E antes de dar uma boa pincelada no repertório de Olho Furta-Cor, eu acho interessante apontar as razões que identifico para que esse disco seja tão fraco.

Creio que fica óbvio que o trio composto por Tony Belloto, Sérgio Brito e Branco Mello, embora funcione bem, fica carente sem os demais companheiros de banda, que foram abandonando o barco ao longo dos anos (Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e Paulo Miklos).

Não podemos esquecer que, quando banda surgiu com seu primeiro disco, os titãs eram oito, todos compositores ativos e com ideias totalmente fora da caixa. Conforme os membros foram deixando a banda,  essa criatividade foi diminuindo. O até então disco anterior do grupo, o Opera Rock, Doze Flores Amarelas, primeiro do “trio Titãs” até deu um indicio de futuro minimamente digno para a formação, que é fechada com os músicos de apoio Mario Fabre (bateria) e Beto Lee (guitarrista) e filho de Rita Lee.

Divulgação

Mesmo com a participação ativa do trio nas novas canções, Olho Furta-Cor parece mais com um álbum solo do Sérgio Britto. Das 14 novas faixas apresentadas, 4 foram escritas exclusivamente pelo tecladista/vocalista, outras 7 tem sua co-autoria e outras três não levam seu nome, mas tem a mesma aparente influência de Britto.

Apesar de fraco, não da pra falar que o disco não tem bons momentos. De longe a faixa de abertura “Apocalipse Só”, é uma das mais belas, com um coro infantil junto de um riff de guitarra intimista de Tony Belloto, que também interpreta a canção com um vocal bem legal. Uma pena que a voz de Belloto pra cantar só funcione em estúdio. No ao vivo a história é outra.

O disco não apela pra canções de muito peso em guitarra, o que é bom, pois são nessas faixas que o álbum brilha, como a bela “Um Mundo” também cantada por Tony, que tem um arranjo de violão com piano muito bem acertado e harmonizado. A terceira que mais me agradou foi “Há de Ser Assim”, cantada por Sérgio Britto, uma letra que soa reflexiva, como se quisesse exprimir que o mundo mudou após a pandemia que enfrentamos.

De resto, temos músicas apenas “legais” pra baixo. Nesse disco ficou evidente a vontade do Titãs de voltar a se posicionar diante de questões sociais, como no single “Caos”, escrita por Rita Lee, Roberto de Carvalho e Beto Lee. A música é legal? Sim, sem dúvida, e muito relevante diante do cenário caótico que o Brasil viveu na pandemia, mas também é uma música sem sal e não faz jus aos tempos áureos de obras arrebatadoras como Desordem, Polícia ou Homem Primata. O mesmo pode ser dita de “Como é Bom Ser Simples”, que até apela para um palavrão no refrão, tentando ser relevante, mas soa melancólica e com fortes indícios de crises existenciais camufladas por uma falsa afirmação de “está tudo bem” do cantor e compositor, Branco Mello.

Falando nessa faixa, é necessário abrir um adendo para a ausência de Branco Mello nos vocais. O cantor e baixista se operou do câncer na garganta antes do início das gravações do disco, o que afetou sua voz, de forma que sua presença maior fica mesmo no baixo. As únicas duas canções em que ele cantou, foram demos que o produtor, Rick Bonádio, conseguiu aproveitar. Uma pena que a outra música que Branco interpreta, “O Melhor Amigo do Cão” soa mais como uma sobra sem graça do Opera Rock, e se torna esquecível.

Acho que esse foi disco mais “lado B” que a banda já fez, uma vez que há canções que simplesmente não se fazem memoráveis depois que acabamos de ouvir Olho Furta-Cor, como acontece com as chatas “Raul”, “Papai e Mamãe”, “Por Gallietas”, “Miss Brasil 200 anos” e “São Paulo 1”, que parecem sobras de discos passados e foram colocadas aqui apenas pra fazer volume.

Divulgação

E das músicas chatas, ainda tem as vergonhosas, como “Eu Sou o Mal”, com uma letra de tiozão de 50 anos querendo pagar de jovem, e a interpretação pífia de Belloto ao cantar a letra deixa isso bem claro. Outra do guitarrista que é constrangedora é “Preciso Falar” que até tem uma letra muito legal, falando sobre o preconceito ao homossexualismo, mas colocada em um arranjo muito mais adequado ao sertanejo universitário do que há uma banda de rock.

Os Titãs lançaram Olho Furta-Cor como um produto de comemoração aos 40 anos da banda. Segundo Sérgio Britto, um contraponto aos companheiros de geração como Paralamas e Barão Vermelho, que estão comemorando suas quatro décadas de carreira com álbuns ao vivo. Sinceramente, eu não sei se um disco com composições tão irregulares faz jus à brilhante carreira de uma banda tão importante quanto o Titãs.

Eu não fico feliz em escrever isso, pois a banda sempre me surpreendeu em seus lançamentos. A produção de Rick Bonádio, ao meu ver, salva um pouco do trabalho final. O produtor tirou um som muito gostoso e bem gravado, mas que não é suficiente pra deixar o repertório interessante. Por fim, a divulgação do disco foi totalmente abafada pela turnê de reunião da formação original do grupo, que começa em abril. Será que eles mesmos perceberam o trabalho sem alma que lançaram? Enfim, se esse for realmente o último disco de canção inéditas do Titãs, Olho Furta-Cor é uma despedida estilo fim de festa; melancólico, sem graça e com aquela sensação de “o último a sair, apague luz”, o que seria um triste fim pra uma banda tão icônica e marcante quanto o Titãs.

  • O autor é estudante de jornalismo e músico

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