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Titãs: Turnê de reencontro é um espetáculo imperdível

Por Filipe Vasconcelos – Turnê “Todos ao mesmo tempo agora” resgata a melhor fase do Titãs.

Aquilo que os amantes do rock nacional oitentista tanto queriam finalmente aconteceu. Os Titãs estão juntos de novo, não para retomar a banda, mas para uma série de shows que comemoram os 40 anos do grupo formado em São Paulo no inicio dos anos 80. A reunião de uma formação clássica de qualquer banda é algo difícil de acontecer, e com os Titãs parecia ainda mais improvável.

A característica mais marcante dentro do Titãs (ou uma das) foi à quantidade de membros que havia na banda. Dentre formações mais tradicionais, como as do Barão Vermelho, Capital Inicial e Paralamas e Legião Urbana, que tinha entre 3 a 5 integrantes, o grupo de rock paulista nascido nas entranhas do colégio Equipe tinha impressionantes 8 integrantes, todos compositores, e 5 deles cantores principais. Essa salada inusitada deu origem a clássicos eternos do rock nacional, gravados em álbuns como “Cabeça dinossauro (1986)”, “Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987)” e “Õ Blesq blom (1989)”, citando apenas os mais queridinhos da mídia.

Divulgação/Titãs

Porém, nos anos 90 a banda começou a encurtar. Durante o processo de produção do disco de 1993, “Titanomaquia”, Arnaldo Antunes deixa o grupo para seguir carreira solo. Em 2001, antes de iniciar as gravações do CD “A Melhor Banda de Todos os tempos da última semana”, o guitarrista Marcelo Fromer é atropelado por um motociclista em São Paulo, vindo a sofrer morte cerebral dois dias depois em decorrência de um traumatismo craniano. Esse falecimento reforçou a saída de Nando Reis no ano seguinte. No inicio de 2010 foi à vez do baterista Charles Gavin e por último, em 2016, Paulo Miklos, transformando aquele grande grupo no trio que conhecemos hoje, e um tanto sem sal, diga-se de passagem.

Entre saídas mais, digamos que “amigáveis”, como a de Arnaldo Antunes e Paulo Miklos, há outras com fatos um tanto ainda obscuros, como a de Nando Reis, ter a chance de ver o grupo junto de novo parecia impossível. Até houve um reencontro tímido em 2012, na comemoração dos 30 anos da banda. Mas foram apenas dois shows, em São Paulo, um deles transmitido na TV e sem a produção atual. Mas agora, com a “Todos ao mesmo tempo agora”, nome da antológica tour, quem nunca teve a oportunidade de ver um show dos Titãs da maneira que rolava nos áureos tempos oitentistas, terá a oportunidade de ver o grupo unido de novo. Felizmente, pude ver esse espetáculo apoteótico no Stúdio 5, na última quinta-feira (11), e apesar de leves contrapontos, minha expectativa não poderia ser melhor atendida.

Divulgação/Titãs

Tirando logo um elefante branco da sala (não estou me referindo ao Branco Mello, ok?), os desavisados que ainda não assistiram a nenhum show da turnê precisam saber logo de cara que, essa tour é para os fãs, sim, mas não para aqueles que acompanharam o grupo nas fases mais “em baixa”. Ou seja, se você espera ouvir pérolas esquecidas como “Dona Nenê”, “Corações e Mentes”, “Medo” ou “Será que é isso que eu necessito”, melhor baixar suas expectativas. O repertório aposta naquilo que é mais certo. Isso não quer dizer que não haja gratas “surpresas”. Além de clássicos manjados como “Homem Primata”, “Sonifera ilha” e “Marvin”, há coisas que ficam ali entre o “famosinho” e o lado b, como “Igreja”, “Estado Violência” e “Eu não sei fazer música”. Porém, mesmo quem esperava ouvir uma enxurrada de canções esquecidas pelo tempo, vai se divertir no show.

Falando em show, ver os Titãs, já “sessentões”, juntos novamente no palco, é um soco na boca do estomago dos artistas mais novos e preguiçosos que temos na atualidade. Mesmo com uma idade avançada, a impressão que temos é de estar vendo 8 rapazes no auge dos seus 25 anos de idade no palco. Sim! Ainda são 8, uma vez que o produtor Liminha, que foi tão importante na história do grupo, está ocupando a guitarra vaga do saudoso Fromer, que é lindamente homenageado na turnê pela presença de sua filha, Alice Fromer. A jovem canta com os Titãs os clássicos “Toda cor” e “Não vou me adaptar”. Sua participação na apresentação acontece num bloco que remete aos tempos do “Acústico Mtv”, em que os Titãs sentam num banquinho e tocam algumas canções daquele período, como “Pra dizer adeus” e “Os cegos do castelo”, que hoje acaba soando muito mais como uma música solo do Nando Reis, mas foi maravilhoso ver os Titãs revisitando essa canção junto com o ruivão no palco.

Divulgação/Titãs

Outro ponto maravilhoso no show é a presença de Branco Mello, que passou uma reinvenção vocal após a cirurgia que fez na garganta em decorrência de um câncer. Mesmo rouco, ele ainda manda bem demais, cantando com uma afinação impressionante pra sua condição, além da sua presença de palco inigualável , com direito as suas dancinhas e tudo mais. Manaus ainda fez o cantor se emocionar ao gritar em unisom um “guerreiro” depois que ele cantou o clássico “To Cansado”, com direito a abraços de carinho de seus companheiros, Paulo Miklos e Arnaldo Antunes.

A presença de Antunes também é um deleite. Como ele saiu do grupo há 30 anos, tenho certeza que boa parte do público que está indo aos shows nunca teve a oportunidade de ver o cara em ação junto com os Titãs, e não da pra deixar de falar o quanto é gostoso ver Arnaldo no palco, com toda sua simpatia, presença de palco e comportamento extravagante, que casa tão bem com o repertório. Quem for músico vai perceber que as canções cantadas por Arnaldo no show, como “Lugar Nenhum” e “Comida” estão em um tom abaixo dos originais, visto que ele já não consegue mais cantar do jeito que fazia antes. Mas nada que prejudique o show.

Falando do repertório, algo que achei fantástico é que essa turnê de reunião não resgatou apenas os antigos membros da banda, como também as músicas em sua essência. O Titãs costuma fazer algo que eu, pessoalmente detesto em muitos artistas, que é quando eles decidem mexer no arranjo de suas músicas com o passar dos anos, sob a desculpa de “a música evolui com o tempo”. Mas para esses shows, todas as canções são tocadas exatamente da maneira que foram registradas em seus respectivos discos, e isso cria uma atmosfera muito boa pro espetáculo, como a entrada da banda, que acontece durante a execução da sample eletrônica de “Diversão”, que segue com a introdução da guitarra de Tony Belloto e com o restante da banda lhe acompanhando.

Divulgação/Titãs

Por fim, fica o sentimento de ver que, embora haja sim uma boa quantia em dinheiro envolvida nessa reunião, todos de fato estão ali por vontade de estar. Isso fica claro na interação da banda com o publico, e até dos músicos entre eles. Aquelas brincadeiras de palco, trocas de olhares cheios de cumplicidades e o sentimento de estar revisitando aquele repertório com carinho, tudo isso pode ser presenciado pelo público. É Titãs! Simples e furiosamente, Titãs!

Eu, que comecei a acompanhar a banda aos meus 7 anos de idade, época do famoso “Acústico”, só pude vê-los ao vivo pela primeira vez em 2006, já sem Arnaldo, Nando e Marcelo. Então, poder ver meus heróis juntos ao mesmo tempo agora, foi simplesmente incrível. Um misto de emoções, lembranças de infância, um amor enorme pela banda (mesmo fazendo trabalhos decepcionantes, como o recente Olho Furta-Cor, foi à sensação mais incrível que já experimentei em um show. Em 2009 eu pude conferir o Iron Maiden ao vivo em Manaus. Porém, eu preciso ser justo. “Todos ao mesmo tempo agora” foi o melhor espetáculo que vi em um show de rock. Quem perdeu, sinto muito, pois não terá outra oportunidade. E quem ainda não foi, não deixe de ir. É rock da melhor qualidade possível!

*O autor é estudante de jornalismo e músico

Os artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitida sua reprodução, total ou parcial desde que seja citada a fonte.

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