Dois buracos negros supermassivos, localizados a bilhões de anos-luz da Terra, estão emitindo jatos de partículas extremamente rápidas e brilhantes em nossa direção. A descoberta foi feita por astrônomos utilizando o telescópio espacial Chandra, da NASA, em conjunto com o Very Large Array (VLA), um dos mais potentes instrumentos de radioastronomia do mundo.
Os resultados, divulgados durante o 246º Encontro da Sociedade Astronômica Americana, nos Estados Unidos, e publicados em versão pré-print desde abril, revelam que os jatos foram emitidos há cerca de 11,6 bilhões de anos — apenas três bilhões de anos após o Big Bang, no chamado “meio-dia cósmico”, período de intensa formação de estrelas, galáxias e buracos negros.
A equipe de pesquisadores identificou dois jatos gigantescos: J1405+0415 e J1610+1811, com comprimentos superiores a 300 mil anos-luz e velocidades entre 92% e 99% da velocidade da luz. Esses jatos puderam ser detectados graças à interação dos elétrons emitidos pelos buracos negros com a radiação cósmica de fundo (CMB), vestígio do Big Bang. Essa interação gera raios X, que podem ser captados por telescópios como o Chandra.
Por meio de 10 mil simulações, os cientistas calcularam que os jatos estão direcionados quase diretamente à Terra, com inclinações de apenas 9° e 11°. Essa proximidade direcional aumentou a visibilidade do fenômeno.
Segundo o professor Thiago Signorini Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo da UFRJ, embora impressionantes, os jatos não representam risco à vida no planeta. “Esses fenômenos nos ajudam a entender melhor como os buracos negros se formam e como interagem com o ambiente ao redor. Mas, para a Terra, não há qualquer ameaça”, afirmou.
A descoberta é considerada um marco por revelar, com clareza inédita, jatos tão antigos e distantes. Para a pesquisadora Jaya Maithil, do Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian e autora principal do estudo, os dados abrem novas perspectivas sobre o papel dos buracos negros no início do universo. “Estamos descobrindo que alguns buracos negros podem ter um impacto maior nesse estágio do universo do que pensávamos”, destacou.