Durante a Semana de Vacinação nas Américas, que ocorre até 3 de maio, os países do continente estão mobilizados para aplicar cerca de 66,5 milhões de doses de vacinas, em um esforço conjunto para ampliar a cobertura vacinal e conter o avanço de doenças como sarampo e febre amarela. A campanha, coordenada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), tem como tema deste ano “Sua decisão faz a diferença”.
A preocupação com o sarampo é central na mobilização. Em 2025, surtos da doença já foram registrados nos Estados Unidos, Canadá e México, totalizando mais de 2,6 mil casos e três mortes — um número mais de dez vezes maior que os 215 casos registrados no mesmo período de 2024. Embora o Brasil tenha reconquistado em 2024 o status de país livre do sarampo, o Ministério da Saúde alerta para o risco de reintrodução do vírus e convoca pessoas que não receberam a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) ou não têm certeza da imunização a se vacinarem.
A chefe de Saúde e Nutrição do UNICEF no Brasil, Luciana Phebo, ressalta o impacto regional da política de vacinação brasileira. “O sarampo é altamente contagioso e pode ser letal, principalmente para crianças desnutridas. Controlar a circulação do vírus é um sinal de que o programa nacional de imunização está funcionando adequadamente”, destaca.
Outro foco de atenção é a febre amarela. Em 2025, já foram confirmados 189 casos da doença nas Américas — três vezes mais que todo o ano anterior. O Brasil lidera as estatísticas com 102 casos e 41 mortes. Diante desses números, a vacinação é considerada essencial para prevenir novos surtos.
A campanha também faz parte de um esforço mais amplo para eliminar mais de 30 doenças até 2030, incluindo 11 que podem ser prevenidas por vacinas, como hepatite B, meningite bacteriana e o câncer de colo do útero.
Para o assessor científico sênior da Fiocruz, Akira Homma, a cooperação entre países é fundamental. “Agentes infecciosos não respeitam fronteiras. Se todos mantiverem coberturas vacinais elevadas, mesmo que um caso importado chegue, não haverá disseminação”, explica.
No entanto, Homma e a pesquisadora da Fiocruz Lurdinha Maia defendem ações locais e adaptadas às realidades regionais, com foco na popularização da ciência e combate à desinformação. Ambos coordenaram o Projeto pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, que entre 2021 e 2023 ajudou estados como Amapá e Paraíba a reverter índices críticos de imunização, principalmente contra a poliomielite.
“Acesso também é um grande desafio. No Rio, temos o Super Centro Carioca de Vacinação, que funciona até às 22h, inclusive nos fins de semana. Esse modelo precisa ser replicado em outros municípios”, sugere Lurdinha. A proposta é levar vacinas a locais de grande circulação, como estações de metrô, aeroportos e shoppings, facilitando o acesso da população à imunização.