A plataforma de streaming Deezer anunciou nesta terça-feira (24) o lançamento do primeiro sistema global capaz de identificar músicas criadas integralmente por inteligência artificial (IA). A iniciativa surge em meio ao crescimento expressivo desse tipo de conteúdo na plataforma, que já soma mais de 20 mil faixas enviadas diariamente — um aumento de 18% nos últimos meses.
“Detectamos um aumento significativo no envio de músicas geradas por IA apenas nos últimos meses e não vemos sinais de desaceleração”, afirmou Alexis Lanternier, CEO da Deezer.
O sistema utiliza uma tecnologia proprietária desenvolvida pela própria empresa, capaz de reconhecer músicas criadas por ferramentas como Suno e Udio. A plataforma afirma que o sistema está preparado para ser treinado e expandido, identificando futuramente outros modelos de IA generativa. Também está em desenvolvimento uma funcionalidade que permitirá detectar músicas sintéticas mesmo sem treinamento prévio.
A nova ferramenta foi apresentada como uma resposta direta a desafios que afetam toda a indústria musical, especialmente no que diz respeito à transparência e à proteção dos direitos autorais. “Acreditamos que uma abordagem responsável e transparente é essencial para manter a confiança dos nossos usuários e da indústria da música”, destacou Lanternier.
Combate à fraude e proteção de artistas
Apesar do crescimento no envio, o consumo de músicas feitas por IA ainda é baixo na Deezer, representando cerca de 0,5% dos streams. No entanto, a plataforma identificou que boa parte dessas faixas é utilizada de forma fraudulenta, com o objetivo de manipular o sistema de remuneração de royalties.
Dados internos da Deezer apontam que até 70% dos streams dessas músicas são gerados artificialmente para inflar ganhos financeiros. Em reação, a empresa já implementa medidas para excluir essas execuções dos cálculos de repasse de royalties.
Além disso, a plataforma decidiu remover músicas 100% geradas por IA de playlists editoriais e das recomendações algorítmicas, uma estratégia que visa proteger a visibilidade e a remuneração de artistas e compositores humanos.
Risco bilionário para o mercado musical
O lançamento do sistema acontece em meio ao acirramento do debate sobre o uso de obras protegidas no treinamento de modelos de IA. Um estudo recente da Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (CISAC), realizado em parceria com a PMP Strategy e a própria Deezer, projeta que até 25% da receita dos criadores pode estar ameaçada até 2028. O impacto financeiro estimado chega a 4 bilhões de euros — cerca de R$ 25 bilhões.
A Deezer afirma que continuará aprimorando ferramentas para garantir a proteção dos direitos autorais e combater o uso indevido de inteligência artificial na música.