O aplicativo Meta AI, lançado em abril de 2025, tem gerado polêmica e preocupações sobre privacidade digital. Usuários relataram que conversas pessoais com a inteligência artificial estão sendo exibidas em um feed público chamado “Discover”, revelando informações sensíveis como dados médicos, questões judiciais, endereços e até áudios captados acidentalmente.
A funcionalidade permite que qualquer pessoa acesse conversas de outros usuários, criando uma espécie de rede social baseada em interações com IA. O problema surge quando usuários, sem perceber, compartilham dados privados, acreditando estar em um ambiente restrito.
Entre os casos identificados, há relatos de problemas de saúde, detalhes sobre cirurgias, pedidos de ajuda para redigir cartas para processos judiciais e até discussões sobre relacionamentos e preferências pessoais. Em uma das situações, um usuário chegou a expor dados completos ao pedir ajuda para uma carta destinada a um juiz em uma disputa de guarda.
Além das mensagens de texto, o aplicativo também exibe imagens geradas e gravações de voz. Especialistas identificaram áudios que parecem ter sido gravados de forma acidental, capturando conversas privadas, possivelmente com o microfone ativado sem o conhecimento do usuário.
Em nota, a Meta afirma que “nada é compartilhado no feed a menos que o usuário escolha publicar”. No entanto, uma investigação da jornalista Katie Notopoulos revelou que a maioria dos usuários desconhecia que suas interações poderiam ser tornadas públicas. Dos mais de 20 usuários contatados, apenas um respondeu, confirmando que não tinha a intenção de divulgar sua conversa.
O problema se agrava porque as publicações feitas no Meta AI estão diretamente associadas aos perfis pessoais dos usuários no Facebook e no Instagram, aumentando ainda mais os riscos de exposição.
De acordo com dados da Appfigures, o Meta AI registrou 6,5 milhões de downloads desde o lançamento. Apesar do número expressivo, o desempenho é considerado abaixo das expectativas, especialmente diante dos bilhões investidos pela Meta no setor de inteligência artificial.
O cenário reforça críticas feitas desde o lançamento, com especialistas classificando o aplicativo como um “desastre de privacidade anunciado”. O baixo engajamento pode estar ligado justamente às falhas de transparência sobre como funciona o compartilhamento de dados na plataforma.
O episódio ocorre em meio à expansão dos investimentos da Meta em inteligência artificial. Mark Zuckerberg anunciou recentemente que o assistente de IA da empresa já soma 1 bilhão de usuários nas plataformas da companhia. Além disso, a empresa confirmou a criação de um novo laboratório de IA, liderado por Alexandr Wang, cofundador da Scale AI, focado no desenvolvimento de superinteligência.
Diante da situação, parte dos usuários passou a publicar conteúdos provocativos e irrelevantes no feed, numa espécie de protesto, indicando desconfiança crescente sobre a segurança do aplicativo.
Até o momento, a Meta não respondeu quais medidas pretende adotar para evitar a exposição de dados pessoais nem se haverá mudanças na interface que tornem mais clara a natureza pública do feed. A falta de respostas reforça o debate sobre os riscos que grandes empresas de tecnologia impõem à privacidade dos usuários.
O caso da Meta AI revela os desafios e os riscos de se integrar ferramentas de inteligência artificial com recursos sociais sem garantir clareza e segurança no uso dos dados.