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quinta-feira, maio 9, 2024
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O mundo não terá mais uma Rita Lee ou uma Tina Turner

Por Filipe Vasconcelos – A representativade feminina na arte vive uma fase complicada.

O mês de maio marcou a perda de duas artistas incríveis. No Brasil, Rita Lee nos deixou no dia 8, enquanto travava uma luta contra um câncer. Já no dia 24 foi à vez de Tina Turner, diva mundial da música e do cinema. Rita e Tina, embora de países diferentes, tem muito em comum. Ambas se consagraram cantoras excepcionais, vozes do rock, artistas completas, que falavam o que pensam, e muito pensavam sobre a sociedade em que estavam inseridas. Ambas souberam ser transgressoras em uma época de repressão, e fizeram isso de forma brilhante, seja na sua música, ou na atitude. Eram mulheres de conteúdo que sabiam se portar e se posicionar, sem ser vulgar.

Mulheres iguais a Rita Lee e Tina Turner não surgem todos os dias, o que é uma pena, pois deveriam surgir, e o exemplo delas deveria ser seguido. O legado que essas divas deixaram na sua arte e na forma de viver, todos nós conhecemos, eu não vou ficar escrevendo uma série de coisas que vocês já sabem de cor e salteado. Eu vim aqui pra falar daquilo que muita gente sabe e não diz, seja por medo ou por pura conveniência. Ao pensar no legado que Rita e Tina deixaram, e olhando pras artistas femininas que temos em evidência hoje, eu simplesmente fico triste.

Embora o sexo e as drogas tenham feito parte da carreira de nossas finadas heroínas, sabemos bem que o cenário de repressão que se vivia entre as décadas de 1960 a 1980 era pesadíssima, e em dado momento, tais artifícios foram ferramentas de liberdade, mas nunca foram o foco da vida dessas mulheres. Por trás disso, havia um discurso de igualdade para todos e o fim de regras já ultrapassadas, não só para as mulheres, para a juventude em geral. Rita Lee e Tina Turner falaram para todos de sua geração, homens, mulheres, adolescentes, idosos… Simplesmente todos que se sentiam abraçados pela causa.

E hoje, em 2023, eu paro e penso; como um país igual ao Brasil, que “deu a luz” a artistas lendárias como Rita Lee, Gal Gosta, Elis Regina, Maria Betanha, e até algumas mais recentes que seguiram essa linha, como Cássia Eller e Pitty, hoje produz artistas medíocres como Anitta, Ludmilla, Luíza Sonza e Mc Pipokinha, que convenhamos, sabem criar um bom marketing, mas são desprovidas de qualquer talento artístico ou pensamento crítico.

Assim como aconteceu com as artistas do passado que citei, Anitta e Cia também falam pra sua geração, uma geração garotas de 13 anos pra cima, viciadas em celular, sem o acompanhamento da família pra lhe ajudar no amadurecimento intelectual, que acabam aprendendo com as funkeiras de hoje, que mulher de atitude é aquela que veste um micro short e balança a bunda da maneira mais sensual e animalesca que o corpo permite. E quando essas artistas abrem a boca pra falar sobre algum assunto de impacto social… Deus me livre, não sai nada que se aproveite.

Reprodução/Instagram

Veja bem, eu não sou a favor de censurar essas mulheres, a vida e o corpo é delas, elas fazem o que bem entenderem. O problema é que, pra começo de conversa, elas são a favor da censura. Recentemente, um Tiktoker falou verdades que incomodaram a tal “Poderosa”, de tal forma que seu publico, uma massa de manobra incapaz de desenvolver um senso crítico que fuja do senso comum, se juntaram para cancelar o rapaz. Na ocasião, o influencer brasileiro que mora no Estados Unidos, relatou que, devido a fama que a Anitta tem internacionalmente, muitos homens estrangeiros pensam que mulher no Brasil é fácil e vulgar. Ora bolas, as brasileiras que fazem sucesso hoje cantam isso a todo momento, sem nenhum pudor, e agora que os frutos de sua “arte” dão frutos, se revoltam? A influência que esse tipo de artista possui sobre as massas, que em geral são adolescentes em fase de formação, me preocupa muito, pois certos hábitos que não deveriam ser normalizados, vão se tornar banais a cada ano que passa. E se eu, ou você, acharmos isso um absurdo, seremos “cancelados” e teremos nossa reputação destruída. Isso não é um absurdo?

Eu não sou puritano, nem quero impor regras. Eu acho formidável como a Anitta, por exemplo, consegue gerir sua carreira, e ela nem canta tão mal assim. Mas será que é tão necessária cantar sobre sexo casual das maneiras mais explicitas, sabendo bem que seu público, em grande maioria são adolescentes que ainda não tem maturidade de entender a mensagem passada? E isso não fica só nas músicas, mas no comportamento dessas mulheres, que ganha grande destaque nas redes sociais.

Recentemente, a Mc Pipokinha entrou na cabine de um avião e baixou a calça em frente ao comandante do avião, que lhe falou que aquilo não era permitido. Ela respeito? Claro que não, ensinar noções básicas de respeito não parece estar na lista de prioridades dessa turma. Isso virou noticias e nas redes sociais, o público da Pipokinha aprovou o que ela fez. O direito de um começa onde acaba o do outro, mas, parece que essa frase perde o sentido a cada dia.

Enfim, eu sei que meu texto foi pesado, mas isso tudo precisa ser falado. Eu não quero tirar o direito da mulher de ser o que ela quer, mesmo que isso signifique que ela queira ser tratado como um objeto de desejo de homens que não tem nenhum valor na cabeça. Sim, você pode ser isso se você se sente feliz assim. O que eu acho que não pode é tornar isso cultural e vender a ideia da mulher objeto como algo cultural. Infelizmente, isso vem acontecendo, e não é de hoje. Lembra do “É o Tchan” sua dança do bumbum? Então, começou ali, e dali só ladeira abaixo. E depois do caso do influenciador que deu sua opinião sobre isso, eu vejo que estamos entrando numa era perigosa, onde questionar comportamentos errados vai se tornar errado, e não ter valores ou princípios morais vai ser o certo. Isso não preocupa vocês?

Que pena, não teremos mais uma nova Rita Lee ou uma nova Tina Turner!

*O autor é estudante de jornalismo e músico

Os artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitida sua reprodução, total ou parcial desde que seja citada a fonte.

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